Workshop: Prática de Roteiro de Documentário
À vista: R$720,00
Descrição
“Não é o documentarista que vai atrás da ideia, é a ideia que chega até o documentarista.”
Ken Burns
“Pra mim, fazer documentário sempre foi sobre tirar o tempo para sair da superfície e achar o coração da histó- ria”.
Barbara Kopple
Ken Burns e Barbara Kopple, dois dos maiores documentaristas da atualidade, dizem que sempre têm muitas ideias, mas é só quando uma chega ao coração que eles começam a investir nela. Mas, como começar a tirar a ideia do papel? No documentário, o ponto central é entender e se aprofundar na história, e acima de tudo, perceber se ela tem relevância. E isso se dá conhecendo melhor os protagonistas, os sujeitos que são os motores das ações.
No documentário, normalmente, é na pesquisa que nasce a história que vai se transformar no roteiro. E ela é soberana, pois é de onde se desenrolam todos os acontecimentos para a realização de um bom filme.
Filmar um documentário não é apenas retratar uma história real, e sim interpretá-la de forma que a subjetividade tanto do personagem principal quanto do realizador fique explícita. Assim, a narrativa transcende a mera exposição de fatos e passa para uma interpretação deles, gerando uma reflexão coletiva, amplificada. Não se trata de manipular dados, mas sim, de como cada um percebe e sente o que aconteceu. Afinal, ponto de vista é algo único e subjetivo.
OBJETIVO
O objetivo é oferecer um curso que demonstre, através de exercícios práticos, todas as etapas pelas quais o roteiro de um documentário passa – desde o desenvolvimento, com a pesquisa na pré-produção, passando pela elaboração do pré-roteiro de filmagem, até os roteiros finais – focando na elaboração do projeto e na importância das histórias dos personagens principais na construção dos seus arcos. Vamos focar em pessoas como protagonistas de suas histórias e dos acontecimentos que estão ao redor delas. Ao final do curso, cada aluno terá desenvolvido um roteiro de curta documental e terá conhecido os elementos principais que são necessários para se montar a apresentação de um projeto para a venda.
Ementa
MÉTODO
Mesclando teoria e prática, mas com um peso muito maior para a prática, o curso vai estimular os alunos a exercitarem suas habilidades de investigação e escrita, compreendendo como se dá na prática o processo de desenvolvimento de uma ideia e de um roteiro documental. Abordaremos técnicas de pesquisa e entrevista, e discutiremos em sala, em formato de workshop, os exercícios trazidos pelos alunos, estimulando também a habilidade de cada um de dar feedbacks construtivos e contribuir criativamente com os trabalhos dos colegas. As discussões teóricas vão incluir a análise de trechos de filmes e abordarão as ferramentas, métodos e técnicas para a construção de elementos do desenvolvimento da ideia, dos roteiros documentais e dos projetos de venda.
CONTEÚDO
AULA 1 – CONSOLIDANDO A IDEIA
Nesta aula, discutiremos sobre a importância da pesquisa no processo de desenvolvimento do roteiro documental e sobre como começar a transformar o que está no papel em realidade. Vamos mostrar referências pertinentes ao tema da aula, destacando a importância da narrativa no roteiro para construirmos uma conexão com o público, e
introduzindo o conceito de distinção entre o sujeito e a história que é construída a partir da interpretação de quem está fazendo o documentário.
Introduziremos noções de ponto de vista e de motivação, falando sobre a distinção entre elas. Faremos também um paralelo com a construção de histórias na ficção, incentivando a reflexão sobre protagonismo. Com isso, vamos falar da importância de se enxergar o personagem principal no documentário em várias camadas para chegar ao coração do conflito. Explicaremos o que é conflito e porque ele é fundamental para entendermos se vale a pena contar essa história, e principalmente, porque se quer contar essa história – investigando a própria motivação.
Com estas provocações em mente, para a próxima aula, passaremos um exercício: os alunos trarão um perfil do personagem principal que eles desejam retratar em seu documentário. É importante que os personagens sejam próximos e topem ser entrevistados.
A ideia aqui não é falar de projetos cuja execução seja muito complexa, pois o curso se propõe a um exercício prático de pesquisa e desenvolvimento de roteiro.
AULA 02 – WORKSHOP: PERFIL DE PERSONAGEM
Os alunos trarão um perfil de personagem que querem investigar e desenvolver. Além da apresentação do personagem, cada um deve apresentar suas motivações, pontos de vista e os conflitos dos protagonistas. É importante que essa pessoa seja conhecida do aluno e já tenha aceitado participar do exercício. Aqui, queremos reforçar que se trata de um exercício de aula para instigar o aluno a pensar na pesquisa e desenvolvimento de seu roteiro de maneira prática, de modo que ele ganhe experiência para reproduzir as técnicas passadas em projetos futuros.
Cada aluno fará uma breve apresentação falando: Por que esse personagem é interessante? Que história eles pretendem desenvolver no seu roteiro documentário? Por que escolheram este ponto de vista? Qual a principal motivação? Qual o conflito do personagem? Esta aula será quase integralmente dedicada às apresentações dos alunos e discussão de seus personagens, e de seus conflitos, temas e motivações para contar as histórias. Cada aluno terá aproximadamente 10 minutos para fazer sua exposição. Todos serão incentivados a participar ativamente da discussão, trazendo feedback construtivo para o trabalho do colega.
Depois vamos falar sobre alguns estilos de linguagem do formato documental e sobre a importância de se ter uma biblioteca de referências. Vamos deixar uma lista de exemplos de diferentes formatos e linguagens documentais com os alunos para eles assistirem em casa. Para a próxima aula, cada aluno deve trazer uma referência (um trecho de até 01 minuto), que seja a inspiração para o estilo que querem adotar, e discutir em sala sobre o porquê escolher este estilo de linguagem.
AULA 03 – WORKSHOP: REFERÊNCIAS E PESQUISA
Nesta aula, os alunos vão mostrar um trecho da referência escolhida de até 01 minuto e discutiremos em sala, suscitando debate acerca do projeto de cada um e o diálogo criativo entre os colegas. Queremos mostrar como construir uma biblioteca de referências e trocar ideias de forma colaborativa são fundamentais para o processo criativo.
Depois de discutir as referências trazidas pelos alunos e de entender os objetivos criativos que serão a base para o roteiro, vamos falar sobre a pesquisa de forma abrangente, e vamos focar na habilidade de achar a história dentro do personagem. Falaremos sobre a fabricação e construção da história a partir do universo do personagem.
Para chegar na história, a pesquisa é fundamental. Vamos passar por técnicas de entrevista, de elaboração de pautas de perguntas, e sobre a necessidade de olhar para os protagonistas de maneira abrangente. Vamos explicar e dar exemplos de como conduzir entrevistas, pensar em uma pauta de perguntas, fazer leitura corporal, e se aproximar de mundos tão distintos do nosso de forma cuidadosa e ética. Destacaremos a importância de estarmos abertos aos imprevistos e surpresas (boas e ruins!) Além disso, vamos ressaltar a importância de explorar toda a singularidade do personagem para o roteiro, trazendo à tona seu universo particular. Para a aula seguinte, os alunos farão o exercício de filmar uma entrevista com seus personagens em seus celulares, com o objetivo de aprofundar a pesquisa da história que desejam contar e se prepararem para escrever seus roteiros.
AULA 04 – WORKSHOP: ENTREVISTAS E DESENVOLVIMENTO DE PROJETO
Os alunos vão trazer uma edição simples (ou extração de trechos), de até 3 minutos, das entrevistas feitas nos próprios celulares. Vamos assistir às entrevistas juntos, e a partir das experiências dos alunos, vamos discutir o que deu certo, o que deu errado, quais dificuldades eles enfrentaram e o que aprenderam com o processo. O importante nesta aula é entender o quanto conseguiram se aprofundar no universo do seu protagonista, quais desvios de rotas devem ser feitos, e extrair daí a história que desejam contar. Os alunos devem atualizar as descrições de seus personagens de acordo com as informações obtidas nas entrevistas – com fatos e detalhes novos, e mais informações sobre o universo do entrevistado para a construção das histórias. Vamos resgatar a importância das fichas de perfis de personagens após a pesquisa, mostrando alguns exemplos de documentos semelhantes.
Após esse mergulho que daremos refletindo sobre as entrevistas feitas por cada aluno, vamos introduzir o que é necessário para a comunicação e para o desenvolvimento da ideia e os elementos necessários para montar o próprio projeto. Dominando o projeto, que
vai tomando forma e se materializando na cabeça e no papel, os alunos irão aprender sobre logline e sinopse e devem começar a exercitá-las. Daremos exemplos.
Para a próxima aula, os alunos devem trazer seus perfis de personagens atualizados e os primeiros exercícios no desenvolvimento de suas loglines e de suas sinopses. É neste ponto de partida que eles saberão se suas ideias estão bem definidas, e se eles já têm o que precisam para começar um roteiro.
AULA 05 – WORKSHOP: ENTREVISTAS E INTRODUÇÃO À ESTRUTURA
Nesta aula, vamos usar o começo para dar continuidade ao exercício da aula 04, assistindo as entrevistas que não vimos na aula anterior. Na sequência vamos introduzir estrutura de roteiro (falando sobre algumas diferenças entre roteiros de documentário e de ficção), e explicando o que é uma estrutura clássica. Falaremos mais sobre sinopse (curta e longa) e vamos expor os conceitos de escaleta, ‘beat sheet’ (diferenciando-os), e argumento.
No final da aula, vamos ler algumas sinopses e loglines que os alunos trouxeram.Para a próxima aula, os alunos irão trazer a sinopse longa e a escaleta (com as ações descritas, isto é, o máximo de cabeçalhos que conseguirem) de seus projetos.
AULA 06 – A ELABORAÇÃO DO ROTEIRO
Para começar a aula, vamos rever as loglines, as sinopses e conhecer as escaletas dos alunos – entendendo se elas estão conversando entre si e tirando as dúvidas sobre técnica, escrita, encadeamento de ideias, fatos, etc.
A partir desses exercícios já feitos, vamos introduzir elementos da escrita de um roteiro de documentário, discutindo como se elabora um roteiro de filmagem de documentário. Partindo do que descobriram nas entrevistas, e de como eles desenvolveram suas escaletas, os alunos vão construir seus roteiros de filmagem, criando cenas, planejando novas entrevistas, pensando o roteiro visualmente e estruturalmente e abrindo as cenas que já estão organizadas no papel.
Daremos exemplos de pré-roteiros de filmagem de documentários para guiá-los, assim como exemplos de roteiros de montagem, para ilustrar a diferença entre eles. Vamos abordar a imprevisibilidade do documentário, a importância de se estar aberto e flexível às mudanças de última hora, e como é importante se manter fiel à essência da ideia original para se ter com o que trabalhar no roteiro de montagem. Além disso, discutiremos, em sala, como os alunos pretendem construir seus roteiros e como imaginam suas histórias sendo contadas, retomando o que já vimos sobre estrutura.
Para a próxima aula, os alunos devem trazer o primeiro tratamento de seus roteiros, alinhado com o material que eles já têm do projeto: o perfil, e a entrevista de seus personagens, a logline, as sinopses e a escaleta.
AULA 07 – WORKSHOP: ROTEIRO
No começo da aula, os alunos apresentam seus roteiros e recebem feedback.
Na sequência vamos falar sobre a apresentação do projeto para sua venda no mercado, introduzindo o conceito de ‘pitching’. Vamos explicitar, e dar exemplos do que é uma bíblia, o que é um ‘pitch deck’ e o que é o ‘one page pitch’, fazendo uma distinção entre eles. Apresentaremos também o que se pede, usualmente, nos editais.
Para a próxima aula, os alunos (que já terminaram o primeiro tratamento de seus roteiros) devem elaborar um ‘pitch deck’ de seus projetos e irão fazer uma apresentação de venda durante a aula – um ‘pitching’ de seus projetos, de no máximo 10 minutos.
AULA 08 – APRESENTAÇÃO DE ‘PITCHING’
Os alunos farão as suas apresentações de venda (com o pitch deck desenvolvido) e terão a oportunidade de discutir detalhes de seus projetos e roteiros, e tirar as últimas dúvidas.
Filmografia sugerida:
Primárias (1960), Robert Drew & Associates
Don’t Look Back/ A Caminho do Leste (1967), D.A. Pennebaker
Harlan County USA (1976), Barbara Kopple
Shoah (1985), Claude Lanzmann
A Tênue Linha da Morte (1989), Errol Morris
A Guerra Civil (1990), Ken Burns
Os Catadores e Eu (2000), Agnès Varda
Edifício Master (2002), Eduardo Coutinho
Estamira (2004), Marcos Prado
Justiça (2004), Maria Luíza Ramos
O Homem Urso (2005), Werner Herzog
Santiago (2007), João Moreira Salles
Garapa (2009), José Padilha
Happy People (2010), Dmitry Vasyukov e Werner Herzog
História que contamos (2012), Sarah Polley
Helena (2012), Petra Costa
Doméstica (2012), Gabriel Mascaro
Os Dias com Ele (2014), Maria Clara Escobar
Piripkura (2018), Mariana Oliva, Renata Terra, Bruno Jorge
Ex-Pajé (2018), Luiz Bolognesi
Free Solo (2019), Elizabeth Chai Vasarhelyi, Jimmy Chin
Espero Tua (Re)volta (2019), Eliza Capai
Democracia em Vertigem (2019), Petra Costa
‘M’ (2018), Yolande Zauberman
Vulcões: A Tragédia de Katia e Maurice Krafft (2022), Sara Dosa
Lewis Capaldi: How I am feeling now (2013), Joe Pearlman
Bibliografia sugerida:
Introdução ao Documentário, de Bill Nichols
Como fazer Documentários, de Luiz Carlos Lucena
Espelho partido – tradição e transformação do documentário, de Silvio Da-Rin
“O cinema documentário e a escuta sensível da alteridade”, de Eduardo Coutinho In Projeto História: revista da pós-PUC/SP, no. 15, Educ, 1997
“A dificuldade do documentário”, de João Moreira Salles In O imaginário e o poético nas ciências sociais
O documentário de Eduardo Coutinho – televisão, cinema e vídeo, de Consuelo Lins
The art of the documentary, de Megan Cunningham
*A realização do curso está sujeita a quórum.
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